
O lugar do BRICS na Política Externa da Índia
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 2, e1118, 2021
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conjunta na declaração de cúpula, defendeu que a solução para o conflito entre
os dois países não deveria ser militar seguindo o Minsk by the Contact Group on
Ukraine, apoiado pelos líderes da Rússia, Alemanha, França e Ucrânia e endossado
pelo Conselho de Segurança da ONU na Resolução 2202 (BRICS, 2015). Em Ufa,
o governo da Índia propôs a criação do BRICS Agriculture Research Platform,
um centro para defender o desenvolvimento da agricultura sustentável, o alívio
da pobreza e promover a segurança alimentar. Essa plataforma de pesquisa foi
estabelecida, em 2016, através de um memorando de entendimento entre ministros
de relações exteriores e implementada, com sede em Nova Delhi, em 2017.
Ainda no encontro de Ufa, num momento em que a Rússia estava sendo
alvo de sanções, ocorreu, simultaneamente ao encontro do BRICS, o encontro
da Organização Cooperação de Xangai, momento em que houve a decisão da
admissão da Índia ao grupo (Shanghai Cooperation Organisation). O desejo
indiano de incorporar-se ao SCO já havia sido manifestado, em 2011, na Declaração
Conjunta entre Rússia e Índia (Lukin 2019).
Quando ocorreu o encontro de cúpula em Goa, em 2016, os problemas
econômicos e políticos que afetavam o Brasil, agravados pela queda dos preços de
petróleo e commodities, que também afetaram a Rússia, e problemas internos na
África do Sul, expuseram o grupo a uma não sintonia em termos de crescimento
econômico, quando a Índia estava crescendo a 8.0% ao ano e a China a quase
7% ao ano. Mas o mecanismo BRICS manteve-se como um espaço de interesse
estratégico e econômico imediato para a Índia. O repúdio ao terrorismo, mais
uma vez, tomou destaque na cúpula, além da ênfase nas instâncias multilaterais
como ONU e OMC e nas mais variadas esferas de cooperação, entre as quais,
agricultura, segurança alimentar, ciência e tecnologia (Brics 2016). Esse encontro do
BRICS serviu para a Índia exercer sua liderança em assuntos de desenvolvimento
(Chaturvedi e Saha 2019). Em Goa, também houve o encontro dos líderes do
BRICS com os da BISMITEC (Bay of Bengal Initiative for Multi-Sectoral Technical
and Economic Cooperation), composto por Bangladesh, Índia, Mianmar, Sri
Lanka, Tailândia, Butão e Nepal, mais uma iniciativa da Índia.
Num contexto de tensão nas relações sino-indianas, o encontro em Xiamen,
em 2017, foi realizado logo após divergências entre a China e a Índia, numa área
de fronteira, na região de Doklam, quando, em junho daquele ano, a Índia tentou
bloquear a construção de uma estrada por parte do governo chinês, enviando
tropas e equipamentos. Superado diplomaticamente esse embate, a declaração