
Tomaz Espósito Neto; Tássio Franchi
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 17, n. 1, e1187, 2022
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A partir de então, o Palácio Lopez passou a fazer ruidosa e obstinada oposição
aos interesses brasileiros em órgãos multilaterais, como a Organização das Nações
Unidas (ONU) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). Os representantes
do Paraguai, por exemplo, não apoiaram o candidato brasileiro, Roberto Azevedo,
na eleição de secretário-geral da OMC. Em virtude de sua suspensão, o Paraguai
considerou também diversificar suas relações e reduzir sua dependência do
Mercosul, e a elite paraguaia inclusive demonstrou interesse em aderir à Aliança
para o Pacífico em detrimento do Mercosul (Guillén 2013, p. 2). Igualmente, o
governo paraguaio iniciou tratativas para participar das negociações no Trade
in Services Agreement (Tisa), as quais são capitaneadas pelos Estados Unidos
e pela União Europeia (Ramanzani Junior; Mariano 2018, p. 258).
Os partidários do Presidente Franco passaram a alimentar um sentimento
nacionalista e antibrasileiro na opinião pública: acusaram o Brasil de criar uma
nova “Tríplice Entente”, e de intervenção em assuntos internos do Paraguai, e
defenderam, com base no relatório Sachs (2013), uma antecipação da renegociação
dos termos do Anexo C do Tratado de Itaipu como forma de combater o
“imperialismo” brasileiro (Nickson 2019 ; Lambert 2016).
A aprovação da lei nº 12.723 de 9 de outubro de 2012, que autorizou a
instalação de “lojas francas” nas cidades gêmeas brasileiras, ameaçou afetar a
dinâmica do “turismo de compras” na fronteira brasileiro-paraguaia. A principal
atividade econômica de cidades como Ciudad del Este e Pedro Juan Caballero é
o comércio triangular, e as elites econômica e política dessas municipalidades
protestaram ativamente contra a legislação brasileira; sendo assim, não está
claro se as lojas francas são uma oportunidade ou um obstáculo à integração
no Mercosul (Odonne; Prado 2015; 2015b).
Por sua vez, as autoridades de Brasília ampliaram o processo de securitização
das fronteiras brasileiras, com vistas a combater o crime organizado e atender um
pleito de maior segurança da sociedade brasileira, em especial da classe média
(Mathias; Zague; Santos 2019). O Arco Central (divisa entre Brasil, Paraguai e
Bolívia) é apresentado como área sensível para defesa e segurança dos interesses
brasileiros (Brasil 2012). Destaca-se, de um lado, o Plano Estratégico de Fronteiras
(PEF) (2011-2016), com articulação do Gabinete de Gestão Integrada de Fronteira
(GGIF) e dos Centros de Operações Conjuntas (COC) (Neves 2016), e de outro
lado, o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron) (2012-atual),
cujo projeto piloto foi instalado em Dourados-MS e que objetiva um maior controle
e monitoramento da fronteira brasileiro-paraguaia, além de ser um importante