Lauro Henrique Gomes Accioly Filho; Fábio Rodrigo Ferreira Nobre; Alexandre César Cunha Leite
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 19, n. 3, e1400, 2024
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Discursos importam: o impacto da
mídia preparatória em ataques às
Instituições Democráticas, aplicando
estudo de caso nos Estados Unidos
(2021) e no Brasil (2023)
Speeches matter: the impact of preparatory
media on attacks on Democratic
Institutions, applying case studies in the
United States (2021) and Brazil (2023)
Los discursos importan: el impacto de los
medios de comunicación preparatorios
en los ataques a las Instituciones
Democráticas, aplicando un estudio de caso
en Estados Unidos (2021) y en Brasil (2023)
DOI: 10.21530/ci.v19n3.2024.1400
Lauro Henrique Gomes Accioly Filho
1
Fábio Rodrigo Ferreira Nobre
2
Alexandre César Cunha Leite
3
Resumo
Na atual conjuntura política, movimentos antidemocráticos estão
em ascensão devido à retórica intolerante nas redes sociais,
ameaçando regimes democráticos. O artigo investiga a relação
1 Mestre em Relações Internacionais na Universidade Estadual da Paraíba, com
período sanduíche na American University, Washington D.C. (lauroaccioly.
br@gmail.com). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1294-9366.
2 Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco. Professor do
Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais e da graduação em Relações
Internacionais da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). (fabio.f.nobre@
servidor.uepb.edu.br). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2905-0541.
3 Doutor em Ciências Sociais/Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo – PUCSP. Professor Doutor Adjunto-DE do curso de Relações
Internacionais da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB e Docente Permanente
do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da UEPB. (alexandre.
leite@servidor.uepb.edu.br). ORCID: http://orcid.org/0000-0002-0209-2717.
Artigo submetido em 16/10/2023 e aprovado em 26/08/2024.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
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Este é um artigo
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ISSN 2526-9038
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entre discursos de líderes políticos e atos violentos, analisando ataques ao patrimônio
público nos Estados Unidos (2021) e Brasil (2023) durante as transições de governo. O
método utilizado é um Estudo de Caso acompanhado por uma análise dos discursos dos
líderes políticos. As principais conclusões são de que os discursos dos líderes políticos nas
redes sociais possuem relação com a mobilização de atos violentos.
Palavras-chave: Processos Sociopolíticos; Comportamento Político; Comunicação; Análise
de discursos.
Abstract
In the current political landscape, anti-democratic movements are on the rise due to
intolerant rhetoric on social media, threatening democratic regimes. This article investigates
the relationship between the speeches of political leaders and violent acts, analyzing
attacks on public property in the United States (2021) and Brazil (2023) during government
transitions. The method used is a Case Study accompanied by an analysis of the political
leaders’ speeches. The main conclusions are that the speeches of political leaders on social
media are related to the mobilization of violent acts.
Keywords: Sociopolitical Processes; Political Behavior; Communication; Discourse analysis.
Resumen
En el contexto político actual, los movimientos antidemocráticos están en ascenso debido
a la retórica intolerante en las redes sociales, amenazando los regímenes democráticos.
Este artículo investiga la relación entre los discursos de los líderes políticos y los actos
violentos, analizando los ataques al patrimonio público en los Estados Unidos (2021) y
Brasil (2023) durante las transiciones de gobierno. El método utilizado es un Estudio de
Caso acompañado de un análisis de los discursos de los líderes políticos. Las principales
conclusiones son que los discursos de los líderes políticos en las redes sociales están
relacionados con la movilización de actos violentos.
Palabras clave: Procesos Sociopolíticos; Comportamiento Político; Comunicación; Análisis
de Discursos.
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Introdução
De acordo com Norris e Inglehart (2019), Levitsky e Ziblatt (2018), Castells
(2018) e Brown (2019), movimentos antidemocráticos crescem devido a práticas
discursivas intransigentes nas redes sociais, representando uma ameaça aos
regimes democráticos.
O problema reside na função que a mídia pode exercer no imaginário de
grupos políticos cuja influência reverbera no processo de significação do mundo.
Segundo Nobre e Accioly Filho (2022), a mídia, especialmente as redes sociais
após o avanço tecnológico da internet, tem um impacto significativo nas relações
sociais e políticas, prejudicando a qualidade do debate público sobre questões
políticas.
O artigo parte de uma análise dos casos de ataques às instituições políticas
nos Estados Unidos (2021), o ataque ao Capitólio, e no Brasil (2023), o 8 de
janeiro, durante o período de transição de governo. O objetivo é realizar uma
análise, de forma explicativa, da relação que as redes sociais exerceram nas
invasões aos patrimônios públicos dos países supracitados. A pergunta norteadora
é: qual a relação entre os discursos de líderes políticos nas redes sociais e a
mobilização de atos violentos?
Utiliza-se o Estudo de Caso (EC) como estratégia de pesquisa, visando uma
análise intensiva e não exaustiva de fenômenos sociais específicos (Sátyro,
D’Albuquerque 2020). Busca-se uma explicação do fenômeno por meio do arcabouço
da mídia preparatória (Munn, 2021). A proposta de mídia preparatória de Munn
(2021) reside em inferir que as redes sociais avocam características funcionais
de ação política que funciona com base em níveis ideológicos e organizacionais
para modificar a imagem de multidão à uma força coesa, distanciando-a do
retrato de aglomeração de pessoas cujos diálogos são dispersos. Utiliza-se
de forma complementar a análise de discursos para extrair significados das
comunicações presentes em um texto (Gonçalves 2016). Associando a premissa
da Mídia Preparatória (Munn, 2021) com a análise de discurso obtém-se um meio
para explicar a origem e a natureza violenta dessas mobilizações. Utiliza-se a
abordagem francesa que integra ideologia, história e linguagem, investigando
a formação do imaginário social dos grupos políticos em questão (Caregnato e
Mutti 2006). O uso conjunto do Estudo de Caso e da análise de discursos permite
uma compreensão do fenômeno da mídia preparatória, explorando suas nuances
e complexidades sob diferentes perspectivas analíticas.
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O texto encontra-se dividido em cinco seções além desta introdução e das
considerações finais. A próxima seção busca aprofundar como as redes sociais se
tornaram terreno fértil para a disseminação de discursos intolerantes, transformando
a animosidade política em ações violentas direcionadas não apenas a grupos
políticos, mas também às próprias estruturas democráticas.
As redes sociais na política contemporânea
Desde a Primavera Árabe em 2010, os movimentos populares estão
mecanizando as redes sociais com intenção de facilitar a disseminação de
informações em relação à composição das manifestações. No caso supracitado,
foi recorrente durante momentos de reivindicação política, econômica e social
(Bartkowiak, Fonseca, Mattos e Souza 2017).
Por outro ângulo, o discurso da extrema direita nos EUA antes do ataque
ao Capitólio promovia coesão social através de uma clara divisão entre “nós” e
eles”. No entanto, ao incentivar a violência contra o processo eleitoral e sugerir
que a violência era a única solução, essas mensagens incitaram grupos a agir
violentamente dentro e fora das redes sociais (Munn 2021).
Pippa Norris e Ronald Inglehart (2019) observam que os movimentos da
ultradireita utilizam plataformas de baixo custo, como Twitter e Facebook, para
criar uma imagem social de grande adesão. Isso ocorre em meio a uma sociedade
profundamente dividida nos debates políticos, resultando em mudanças nas
identidades dos eleitores, que antes eram definidas principalmente por questões
econômicas relacionadas ao papel do Estado. Lepore (2020), Mari, Zúñiga,
Suerdem, Hanke, Borwn, Vila, Boer e Bilewicz (2022) e Oliver & Wood (2014)
enfatizam que as redes sociais estão se tornando terrenos propícios para a
disseminação de teorias da conspiração, resultando no surgimento de grupos
políticos com posições extremistas no cenário político.
Nesse contexto, as redes sociais desempenham um papel crucial ao transformar
observadores passivos em participantes ativos. No entanto, essa dinâmica se
agrava quando há incitação à violência por meio de linguagem e conteúdo
provocativos. Vários movimentos utilizam termos comuns, como mobilizar,
incitar e legitimar, mas o que os diferencia é a forma como se engajam nas redes
sociais, manipulando a linguagem e a prática discursiva (Munn 2021).
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Segundo Onuf (2001), a narrativa detém um poder maior do que informar,
ela traz representações sociais capazes de gerar imaginários sociais normativos
quando usa de representações parciais que são selecionadas para corroborar uma
retórica. Portanto, o discurso é o alicerce da incitação à violência, a depender de
como se estruturar, ele pode fomentar a incitação de antagonismos e intensificar
a animosidade até que resulte numa violência (Apter, 1997).
A contemporaneidade destaca significativas implicações sociopolíticas do
impacto dos processos midiáticos da era digital, enquadrando um cenário de
práticas comunicacionais que acentuam discussões em relação a linha tênue
sobre demonstração de indignação e posicionamento político à semelhança de
incitação à violência e discurso de ódio (Butler 2021).
Nessa conjunção, o espaço digital modifica características culturais e
subjetivas a partir do ingresso das novas práticas de expressão e comunicação
cuja potencialidade pode provocar impactos sociopolíticos significativos (Sibilia
2016). Assim, evidencia-se que os meios de comunicação são fatores de suma
importância na constituição de percepções sobre a realidade. Por isso, visualizar
a comunicação a partir do aspecto social favorece uma observação ampla da
influência que a mídia exerce na sociedade.
A comunicação atribuída como uma organização simbólica em vez de
instrumento informacional, possibilita, de acordo com Sodré (2014), fomentar
uma compreensão mais ampla da transformação que o mundo sofre pelas forças
sociopolíticas e das tecnologias de mídias. Isto porque cada meio comunicacional
reflete a transformação contextual de sua época.
As redes sociais assumem, portanto, características funcionais de ação
política, o que lhe habilita a trabalhar níveis ideológicos e organizacionais para
modificar a imagem de multidão à uma força coesa, distanciando-a do retrato
de aglomeração de pessoas cujos diálogos são dispersos (Munn 2021).
Outro elemento é o caráter global e coordenado da desinformação (Bennett
e Livingston, 2020) e como uma ordem da desinformação emerge do declínio
da confiança dos cidadãos nas instituições, à medida que a credibilidade da
informação oficial nas notícias é exaurida. A tendência é criar confiabilidade em
fontes alternativas de informação, alterando o entendimento da realidade pelo
público e, consequentemente, perturbando a ordem democrática. Movimentos
radicais de direita figuram entre os responsáveis por esse fenômeno e moveram-
se no sentido de aumentar sua atuação nas mídias sociais. Esses movimentos
são refletidos no Tea Party nos EUA e na ascensão de novos partidos como o
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Alternativa para a Alemanha e o Movimento Cinco Estrelas na Itália, que espalham
grandes volumes de desinformação (Bennett e Livingston 2020).
Tais configurações da mídia mostram como as redes sociais têm potencializado
sua força nos processos sociopolíticos com os atores políticos usando-as para
comunicarem-se diretamente com seus apoiadores (Muhammad e Nirwandy 2021).
Segundo Miguel (2000), essas mídias detêm significativo papel na estruturação
das representações da realidade, ao mesmo tempo em que as tornam responsáveis
pela influência que podem promover ao comportamento político das pessoas.
A comunicação digital reforça fragilidades das condições para o exercício da
cidadania informada, o que deveria ser um dos requisitos basilares para os
processos de eleições e acompanhamento das ações políticas diante de uma
democracia representativa, ocasionando, assim, problemáticas empíricas de
grande proporção (Dahl 2004).
Desta maneira, apesar do avanço das tecnologias de comunicação em agregar
na igualdade política, há, em contrapartida, desafios que estas facilitações
proporcionam a participação política, pois o acesso à informação não é um fator
unitário de construção da consciência cívica das pessoas (Dahl 2012).
De acordo com Han (2018), a banalização do espaço midiático nas redes
sociais torna exígua a possibilidade de mediar a comunicação à medida que a
excessiva sensação de transparência ilude os cidadãos quanto a sua aquisição
informativa, enquanto, paralelamente agrava a indignação dos usuários das redes
sociais por este ambiente preenchido de ambiguidades informativas.
A ascensão de movimentos populares e extremistas nas redes sociais
indicam uma mudança no cenário sociopolítico global. Estes grupos utilizam
estrategicamente as plataformas digitais para disseminar desinformações, moldar
identidades e incitar violência, agravando a polarização política. Apesar da
democratização da informação, a comunicação digital amplifica as fragilidades
na cidadania informada. A ilusão de transparência nas redes sociais aumenta a
indignação devido às ambiguidades informativas.
As redes sociais desempenham, portanto, um papel funcional na ação
política, transformando multidões em forças coesas, mas também apresentam
desafios significativos para a democracia representativa. Assim, compreender
esses fenômenos exige uma análise aprofundada das interseções entre tecnologia,
comunicação, identidade e poder nas sociedades digitais contemporâneas, conforme
será explorado nas próximas seções.
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As faces metodológicas da pesquisa
O artigo parte da utilização do Estudo de Caso (EC) como meio de identificar,
mapear e compreender os riscos que as práticas comunicativas nas redes sociais
podem causar às democracias. Segundo Mahoney (2008), os EC ambicionam
compreender como determinados resultados puderam ocorrer em condições
específicas, considerando que seu poder analítico advém da habilidade de identificar
e analisar os processos causais, possibilitando produzir conhecimento além do
espectro descritivo.
Nas recentes ocorrências analisadas no artigo, indica-se que a animosidade,
centrada nos acontecimentos políticos nos Estados Unidos e no Brasil,
respectivamente o ataque ao Capitólio e o 8 de janeiro, ultrapassam os limites
dos linchamentos virtuais e discursos de ódio nas plataformas digitais. Ela se
manifesta por meio de ações violentas que atingem o Estado, o patrimônio
público e a imprescindível estabilidade necessária para uma divergência política
pautada no respeito mútuo.
Define-se como meios de investigação os discursos de Donald Trump4 e Jair
Bolsonaro no Twitter5 a fim de investigar os impactos sociopolíticos provocados
pelas práticas comunicativas de ambos. A partir do banco de dados Factba.se,
foi possível acessar os tweets de Donald Trump, mesmo após sua conta ter sido
desativada pela própria empresa do Twitter. Realizou-se uma busca utilizando
o termo election e coletamos 842 tweets, incluindo aqueles que haviam sido
deletados, durante o período da campanha eleitoral, iniciando em 3 de abril e indo
até 8 de janeiro, data em que Trump perdeu o acesso à sua conta na plataforma.
A escolha do termo election dá-se devido à recorrência de discursos nas
redes sociais produzidas por Trump antes do ataque ao Capitólio focar em
afirmar que as eleições foram fraudadas. Logo a escolha do termo coaduna com
a conceituação do fenômeno estudado de mídia preparatória permitindo uma
visão abrangente de como as animações políticas foram exploradas em excesso
neste ínterim.
Optou-se por excluir alguns tweets de nossa análise devido à falta de
ferramentas tecnológicas, como softwares de extração de texto. Além disso, a
4 A partir do banco de dados disponibilizado em Factba.se. Material disponível em: <https://factba.se/>.
Acesso em: 27 de julho de 2022.
5 A partir da própria rede social. Material disponível em: <https://twitter.com/jairbolsonaro?ref_src=twsrc%
5Egoogle%7Ctwcamp%5Eserp%7Ctwgr%5Eauthor>. Acesso em: 10 de agosto de 2022.
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abordagem metodológica, baseada na análise de discursos, permitiu selecionar
os materiais que se encaixavam nos critérios estabelecidos no Quadro 1 desta
seção. Como resultado, acabamos analisando apenas 4 tweets, sendo um deles
um vídeo transcrito.
No caso de Bolsonaro, devido à ausência de um banco de dados abrangente
que incluísse postagens deletadas, realizamos uma filtragem das publicações
diretamente em sua própria conta na plataforma. Adicionalmente, foram incluídos
discursos públicos em eventos importantes para suscitar aumento da animosidade
política de seus apoiadores. A seleção foi guiada pelos critérios estabelecidos
no Quadro 1. Ao contrário do processo adotado no caso de Donald Trump, não
foi possível uma filtragem tão precisa.
As publicações escolhidas relacionam-se a eventos cruciais discutidos ao
longo do artigo. Estes incluem a resposta de Bolsonaro à invasão de prédios
públicos em Brasília, sua opinião sobre o ocorrido no Capitólio dos Estados
Unidos, bem como sua reação pública após a derrota na campanha eleitoral.
Um aspecto notável foi o silêncio mantido pelo Presidente por mais de 40 horas
após insucesso no resultado da corrida eleitoral.
A escolha do Twitter deu-se em razão da sua projeção internacional como
estratégia política de campanha eleitoral, considerado por muitos como um
twiplomacy, que significa o uso da citada rede social como plataforma de campanha
e meio de comunicação, com intuito de fortalecer uma agenda política. Todavia,
um mecanismo bastante explorado nesta estratégia pelo Trump foi o medo da
população estadunidense a partir dos estigmas implementados desde o 11 de
Setembro, o que lhe garantiu apoio e visibilidade na sua agenda em relação
a imigrantes, pessoas refugiadas e as pautas sobre terrorismo (Gonçalves, De
Assis 2019).
A análise de discurso (AD) foi realizada por meio da integração de três
elementos fundamentais: ideologia, história e linguagem. A ideologia refere-se
ao posicionamento do sujeito em relação a um conjunto de ideias, fornecendo
insights sobre a audiência a quem o discurso é direcionado. A história representa
o contexto sócio-histórico no qual o discurso se insere, sendo essencial para
situá-lo no espaço e no tempo. E a linguagem constitui a materialidade do texto,
revelando o significado que o sujeito deseja transmitir por meio de seu discurso.
Esses três elementos combinados proporcionaram uma análise abrangente e
contextualizada das mensagens analisadas (Caregnato e Mutti 2006).
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Quadro 1. Estrutura metodológica da Análise de Discurso
Ideologia História Linguagem
A quem se filia, advém de
algum grupo ideológico
Contexto em que ocorre o
discurso
O sentido (objetivo) do texto
que pode não ser explícito
Fonte: Elaboração própria.
A metodologia de análise qualitativa dos fenômenos sociais incorpora atenção
ao contexto que opera a construção da linguagem permitindo investigar e explorar
como ideias e objetos são socialmente construídos.
Complementarmente foi preciso fazer uma investigação da interpelação,
processo que identifica as posições dos sujeitos no texto que foram usados para
interpelar os indivíduos concretos definidos nesse processo. O procedimento de
análise de discurso apoiado na interpelação permite examinar quem discursa e
qual é sua posição de poder, aguçando meios de compreender como os discursos
foram naturalizados de modo a se tornarem senso comum a determinados grupos
(Weldes e Laffey 2004).
Dessa forma, é crucial entender quem está proferindo o discurso e qual é
a sua posição de poder. Nos casos em análise, Trump e Bolsonaro são figuras
políticas cuja influência é significativa devido aos seus cargos como Chefes de
Estado, o que os distingue em termos de poder em comparação com períodos
anteriores quando não ocupavam essas posições.
Posteriormente, segue-se o plano de examinar os discursos que foram
naturalizados e tornaram um senso comum, conforme aponta Munn (2021) ao
relatar que havia uma coesão social entre os grupos responsáveis pelo ataque
ao Capitólio e que demonstravam apoio a Donald Trump, não era um meio
de organizar manifestações políticas, era onde ocorria o próprio evento (pré-
constituído).
Conforme destaca Butler (2021), os discursos injuriosos precisam ser analisados
desde que se perceba a capacidade de agência da linguagem, tornando-a um
ato que tem consequências. Destarte, é imprescindível que os discursos sejam
analisados com base nos significados e representações que foram enunciados
e da forma como foi veiculado. Também se faz necessário identificar de que
maneira é reforçado a repetição desses discursos, capazes de agravar os contextos
de injúrias.
Não obstante, fazer uma análise de discursos, na qualidade de técnica
de extração do significado de comunicações para explorar a contextualização
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dos enunciados no texto, com suporte da análise sequencial para reconstruir a
estrutura do texto e do caso selecionado, é indispensável para a pesquisa em
questão (Gonçalves 2016).
Nesta seção, a análise dos discursos foi explorada como mecanismo para
compreender não apenas as palavras proferidas de líderes políticos como Donald
Trump e Jair Bolsonaro no Twitter, mas também aos impactos sociais de seus
discursos, destacando a necessidade contínua de examinar e questionar os
discursos em um contexto mais amplo. A abordagem de AD consiste em um
mecanismo adequado por integrar três elementos analíticos: ideologia, história
e linguagem, oferecendo, assim, insights sobre a audiência, contextualizando o
ambiente sócio-histórico e revelando significados subjacentes. A análise permitiu
entender o papel dos discursos nas interações sociais e estruturas sociais complexas,
ressaltando a importância contínua de examinar e questionar os discursos públicos
em um contexto mais amplo para compreender seus impactos sociais, políticos
e históricos. Deste modo, as seções 4 e 5 serão os Estudos de casos aplicados
aos mecanismos metodológicos da AD explicada nesta seção.
O caso estadunidense: invasão ao capitólio e as práticas
comunicativas de Trump
O ataque ao Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021 ocorreu
durante a sessão conjunta do Congresso para ratificar a vitória eleitoral de Joe
Biden. Apoiadores de Donald Trump se reuniram em Washington, D.C., numa
manifestação chamada de “Save America” que foi organizada para contestar os
resultados das eleições presidenciais de 2020, todavia, acabaram invadindo o
prédio, cujo caos resultou em várias mortes, incluindo a de um policial, e vários
feridos, tanto entre os manifestantes quanto entre os policiais (Munn 2021).
O evento levou à evacuação dos membros do Congresso, interrompendo o
processo de ratificação dos votos do Colégio Eleitoral. O ocorrido foi condenado
globalmente como um ataque à democracia e levou a debates sobre segurança
institucional, retórica política e a importância do discurso político responsável,
assim como do respeito às normas democráticas (Armaly, Buckley e Enders 2022).
A manifestação orquestrada para protestar contra os resultados das eleições
presidenciais de 2020 acabou escalando numa tomada violenta do edifício do
Capitólio dos Estados Unidos. Embora ocorrido em janeiro de 2021, anteriormente,
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havia entre os grupos de apoiadores do candidato à reeleição, Donald Trump, a
circulação de diálogos sobre fraude eleitoral e ineficiência do sistema eleitoral
americano. Porquanto, o evento foi de natureza partidária cujo cenário era de
uma eleição bastante disputada (Armaly, Buckley e Enders 2022).
A partir das pesquisas experimentais do comportamento eleitoral do
grupo político que contemplou maioria dos manifestantes do evento, Armaly,
Buckley e Enders (2022) identificaram que o nacionalismo cristão nos Estados
Unidos progressivamente associou-se ao aumento do apoio à violência política.
A desinformação conspiratória foi favorecida por instituições religiosas,
influenciando mensagens de líderes políticos que incentivam comportamento
hostil.
Os discursos de Trump minaram a integridade da segurança eleitoral,
especificamente, por desacreditar a integridade do próprio Departamento de
Segurança interno sob sua administração (Luke 2021).
Conforme sua postagem do dia 10 de setembro e do dia 15 de novembro de
2020, verifica-se a retórica de Trump de enquadrar o resultado das eleições como
roubado. Trump ainda sustentava que o reconhecimento das urnas só se deu
por uma Mídia que é atribuída por ele como falsa, ensejando a fundamentação
de que há uma grande mídia corrupta por trás de todo o processo eleitoral.
Ele só venceu aos olhos da MÍDIA FAKE NEWS. Eu não concedo NADA!
Temos um longo caminho a percorrer. Esta foi uma ELEIÇÃO FRAUDADA!6
A direita radical que apoia D. Trump consiste em um grupo político que se
opõe a fatores essenciais à democracia liberal, criticam o sistema eleitoral e a
liberdade de imprensa (Mudde 2019); o que permite compreender o discurso
como alinhado à ultradireita.
Todavia, embora Mudde (2020) sublinhe que a definição de ultradireita sofra
variações devido o fenômeno ser recorrentemente abordado por vários autores,
é comum que a maioria sintonize aditivos partilhados, cujos parâmetros de
etnia e raça estabelecessem disputas sobre o imaginário de nação e integridade,
sendo eles alimentados por discursos de ódio que recaem em antissemitismo,
racismo e xenofobia (Jüpskas e Leidig 2020). Não obstante, é o que deixa grifado
o elemento da ideologia do discurso de Trump que é filiado a este grupo.
6 Versão original: He only won in the eyes of the FAKE NEWS MEDIA. I concede NOTHING! We have a long
way to go. This was a RIGGED ELECTION!
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De acordo com Levitsky e Ziblatt (2018), a liderança política da qual Trump
representa, põe na arena política inimigos e não adversários, e agregam a esta
conjuntura, o planejamento de desvalidar aqueles que compõem os alicerces
do sistema democrático. No discurso exposto, o que se denomina Mídia, lê-se
a Imprensa e o Departamento de Segurança, responsável pela legitimidade do
sistema eleitoral, sendo alvos de invalidação. Outro momento que grifa essa
postura é quando Trump discursa minutos antes a invasão do Capitólio:
A mídia é o maior problema que temos, na minha opinião, o maior de
todos. As Fake News […] derrote-os. Há quatro anos, nós os surpreendemos.
Pegamos eles de surpresa, e este ano eles manipularam uma eleição.
Manipularam como nunca antes […] Você sabe, a América é abençoada
com eleições. No mundo todo, falam sobre nossas eleições. Sabe o que o
mundo diz sobre nós agora? Dizem que não temos eleições livres e justas.
E sabe o que mais? Não temos uma imprensa livre e justa. Nossa mídia
não é livre, não é justa. Ela suprime o pensamento, suprime a liberdade
de expressão e se tornou inimiga do povo.
7
A partir deste discurso, a forma como Trump expressa seu descontentamento
com a derrota eleitoral, indica que sua postura foi recorrentemente voltada a
ensejar falas que buscavam, o que Wendy Brown (2019) coloca como: potencializar
as identidades marginalizadas dos seus apoiadores.
Conforme fez numa publicação8 após a escalada do evento de invasão ao
Capitólio, Donald Trump formulou um discurso suasório de que o evento do
ataque ao Capitólio foi uma demonstração de insatisfação de seu eleitorado que
não aceitavam juntamente com ele a vitória eleitoral que teria sido arrancada
deles por um processo eleitoral fraudulento.
Essas são as coisas e os eventos que acontecem quando uma vitória
sagrada em uma eleição por avalanche de votos é tão sem cerimônia e
brutalmente arrancada de grandes patriotas que foram mal e injustamente
7 Versão original: The media is the biggest problem we have as far as I'm concerned, the single biggest problem.
The fake News [...] beat them. Four years ago we surprised them. We took them by surprise, and this year
they rigged an election. They rigged it like they've never rigged an election before [...] You know, America is
blessed with elections. All over the world they talk about our elections. You know what the world says about
us now? They said we don't have free and fair elections. And you know what else? We don't have a free and
fair press. Our media is not free, it's not fare. It suppresses thought, it suppresses speech, and it's become
the enemy of the people.
8 O arquivo da publicação na rede social do Twitter transcrita no corpo do texto está disponível em: https://
factba.se/trump/search#sacred%2Blandslide%2Belection.
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tratados por tanto tempo. Vão para casa com amor e em paz. Lembrem-se
deste dia para sempre.
9
Segundo dados do Uniform Crime Reporting Program do FBI, os crimes de
ódio em 2020 aumentaram aproximadamente em 35%, comparado aos números
apresentados em 2016, sendo de 6.121 a 8.263 incidentes criminais e 7.321 a
11.129 ofensas relatadas como motivadas por preconceito. A compilação de dados
fornecidas, por sua vez, estabelece o crime de ódio como um crime cometido
motivado, no todo ou em parte, por um limite de evidência que o ofensor
apresenta contra raça, religião, deficiência, orientação sexual, etnia, gênero ou
identidade de gênero da vítima.
Com base nessas análises, torna-se evidente que os discursos e postagens
de Trump anteriores ao ataque refletiam um senso de propósito compartilhado
e coesão social rigidamente definidos: o desejo de restabelecer uma identidade
americana baseada em um imaginário estritamente excludente. Donald Trump
adotou um discurso que ressoava diretamente com o bloco político da extrema
direita, em vez de se alinhar com o partido republicano em sua totalidade.
Isso é particularmente relevante dado o contexto histórico de intensos
conflitos culturais na arena política, conforme mencionado no artigo. Além disso,
ele promoveu uma narrativa polarizada de “nós” contra “eles”, intensificando
antagonismos e incentivando ações violentas não apenas contra adversários
políticos, mas também contra instituições políticas.
Esses discursos tornaram-se perigosos ao incitar a violência, ao mesmo tempo
em que endossaram ações contra a legitimidade do processo eleitoral, alimentando
grupos para agirem violentamente tanto nas redes sociais quanto fora delas (Munn
2021). Isso revela uma das estratégias linguísticas coordenadas entre Trump e seus
seguidores de inibir qualquer mudança no status social de poder de seu grupo
político. Sendo assim, o papel de Trump foi amplificar essa dinâmica.
Ao passo que essas colocações de Munn (2021) são feitas, podemos colocar
em consideração um vídeo que o então, líder político republicano, Donald Trump
publicou em sua conta do Twitter, minutos antes da invasão ao Capitólio cujo teor
põe em considerável enquadramento, a relação do seu discurso com a mobilização
que escalou no ataque ao patrimônio público, símbolo global da democracia.
9 Versão original: These are the things and events that happen when a sacred landslide election victory is so
unceremoniously & viciously stripped away from great patriots who have been badly & unfairly treated for
so long. Go home with love & in peace. remember this day forever.
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Nós lutamos com todas as forças. E se vocês não lutarem com todas as
forças, não terão mais um país. Nossas aventuras empolgantes e nossos
empreendimentos mais ousados ainda não começaram. Meus compatriotas,
para o nosso movimento, para nossos filhos e para nosso amado país, e
digo isso apesar de tudo o que aconteceu, o melhor ainda está por vir.
Vamos descer a Pennsylvania Avenue. Eu amo a Pennsylvania Avenue. E
vamos até o Capitólio, e vamos tentar dar – os democratas são um caso
perdido, eles nunca votaram a favor de nada.
10
Butler (2021) afirma que a construção linguística do sentido de ameaça põe
em campo a certeza de que o ato relatado será realizado. Geralmente, frases-chave
são estruturadas com conjunções subordinativas, frequentemente usando o
termo “se” com a colocação de uma condição, da qual se algo não for feito, algo
poderá ocorrer que não terá contorno. No caso elencado, ele reforça a repetição
de seus discursos que agravam os contextos de injúrias em relação à eleição ter
sido fraudulenta, impulsionando, a certa medida, ações dos seus apoiadores que
podem interpretar estas colocações de formas equivocadas.
O vídeo contendo o discurso, publicado em sua conta do Twitter, revelou
seu poder de influência ao incitar comportamentos hostis na frente do Capitólio,
levando a uma ebulição incontrolável de pessoas que depredaram e invadiram o
prédio (Munn 2021). Diante disso, a presença de Donald Trump nas redes sociais
tornou-se um fator crucial na ascensão marcante dos líderes da ultradireita. Sua
participação ampliou a normalização de discursos entre esses grupos, que por
décadas foram marginalizados na esfera política (Mudde 2020).
Quadro 2. Associação do caso de Trump aos critérios da Análise de Discursos
Ideologia História Linguagem
Grupos da extrema direita que
se autodeclaram “excluídos” das
decisões políticas.
Crescimento da rivalidade
política;
Invalidar o processo eleitoral e
a Imprensa; criar antagonismo
contra estas instituições.
Fonte: Elaboração própria.
A análise do discurso de Donald Trump, especialmente em relação ao ataque
ao Capitólio em janeiro de 2021, indica uma relação entre seus discursos nas
redes sociais, enquanto líder político, e a mobilização de atos violentos.
10 Versão original: We fight like hell. And if you don't fight like hell, you're not going to have a country anymore.
Our exciting adventures and boldest endeavors have not yet begun. My fellow Americans, for our movement,
for our children, and for our beloved country, and I say this despite all that's happened, the best is yet to
come. we're going to walk down Pennsylvania Avenue. I love Pennsylvania Avenue. And we're going to the
Capitol, and we're going to try and give -- the Democrats are hopeless, they never voted for anything.
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As estratégias linguísticas de Trump envolviam a criação de um sentido de
ameaça iminente, utilizando frases-chave estrategicamente estruturadas com
conjunções subordinativas, especialmente o termo “se”, condicionando ações aos
seus seguidores. Essas mensagens, disseminadas nas redes sociais, não apenas
reforçaram a narrativa de fraude eleitoral, mas também incitaram comportamentos
hostis.
Trump não reprimiu os atos violentos dos seus apoiadores, potencializando
suas identidades marginalizadas e alimentando um sentimento de insatisfação
que levou ao ataque ao Capitólio. O poder de sua retórica foi evidenciado no
vídeo publicado antes do ataque, indicando uma contribuição na motivação da
invasão e depredação do prédio.
O papel de Trump nas redes sociais foi crucial na ascensão dos líderes
da ultradireita, normalizando discursos marginalizados por décadas na esfera
política. Sua influência exacerbou as divisões sociais e políticas nos Estados
Unidos, dando indícios da interseção perigosa entre retórica política incendiária
e ações reais de violência. Esses eventos destacam a necessidade urgente de
examinar de perto o poder do discurso político nas plataformas digitais e suas
implicações tangíveis na sociedade.
O caso brasileiro: invasão ao planalto e as práticas
comunicativas de Bolsonaro
A política fascista adotada pelos grupos ultranacionalistas que representa a
ultradireita contemporânea é caracterizada por conjunturas discursivas sustentadas
por teorias da conspiração (Silva, Brites, Oliveira e Borri 2014). Estas teorias têm
como base a promoção de conflitos com o campo científico (Stanley 2018). Não
à toa, são frequentemente sujeitos às injúrias aqueles que compõem o âmbito
acadêmico das universidades, o que demonstra que sua tática é arquitetada
para montar uma identidade de inimigo daqueles que fogem da compreensão
do mundo por referências apelativas, como o medo.
Segundo Teitelbaum (2020), são os adeptos da perspectiva tradicionalista
que polemizam a Modernidade e seus resultados, cujas bases do progresso e
inovação deram forma ao campo científico e restringiram o poderio do espectro
religioso na sociedade. São alvos frequentes desses grupos a Academia e a
Imprensa, à medida que, segundo Brown (2019), exercem papéis suasórios na
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intercomunicação da sociedade com a agenda política. A critério de exemplo,
temos os seguintes tweets11 :
Quando não há problemas no governo, a maior parte da mídia inventa
alguma para ter o que falar e manipular. Informe-se sempre buscando
uma mídia alternativa, pois infelizmente muitas das habituais não
querem o melhor para o Brasil, somente para si mesmas!
Infelizmente, temos que passar grande parte do tempo desmentindo
invenções que parte da mídia e a oposição fazem para desestabilizar o
atual governo. Todos sabemos que seria assim, há um interesse gigantesco
na máquina pública e não é por preocupação com o futuro do país.
Nas postagens encontramos uma movimentação do Bolsonaro de incentivar
seus apoiadores a não diversificarem suas informações, conforme destacado por
(Nobre e Accioly Filho 2022), como um desafio grave a relação da população
com o Estado. Especialmente, porque esses meios alternativos de informação
utilizam estratégias para maximizar o envolvimento nas redes sociais, criando
mensagens que evocam fortes reações emocionais. Em particular, mensagens
negativas que depreciam grupos oponentes e geram considerável engajamento
(Marie, Atlay e Strickland 2023).
Conforme sublinhado por Stocking, Mitchell, Matsa, Afkari e Grant (2022),
quase dois terços dos consumidores de notícias de redes sociais alternativas
(64%) são a favor da proteção da liberdade de expressão, mesmo que esta traga
consigo algum conteúdo falso. Neste contexto sociopolítico, observa-se uma
grande parcela dos usuários de mídias alternativas sendo mais propensa a residir
em ambientes que ressoam e cristalizam diálogos de sua bolha, que acomete
esses usuários ao acesso à desinformação (Pariser, 2012).
Embora estivesse nos Estados Unidos, o ex-Presidente Bolsonaro fez uma
publicação12 em sua rede social, no Twitter, especificamente, abordando o evento
de invasão ao Planalto brasileiro. Seu discurso não remediou aqueles que estiveram
engajados pela retórica de que a eleição foi fraudada, assim como fez Donald
Trump. Sua colocação que remete uma atribuição, do próprio, sobre ataques
antidemocráticos similares ao que ocorreu com o planalto nos anos de 2013 e 2017,
os quais ele denomina como “praticados pela esquerda”:
11 Disponíveis, por ordem de apresentação, em: <https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1124508626394202
112?t=wrHDW5oaXKFKH3SEjOhKOQ&amp;s=19> & <https://twitter.com/jairbolsonaro/status/11272738
17070546951?t=vRdWa56NuL28Ec5WIkjxlA&amp;s=19>. Acesso em: 04/03/2023.
12 Disponível em: <https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1612242019564548097>. Acesso em: 04/03/2023.
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Manifestações pacíficas, na forma da lei, fazem parte da democracia.
Contudo, depredações e invasões de prédios públicos como ocorridos no
dia de hoje, assim como os praticados pela esquerda em 2013 e 2017,
fogem à regra
Suplementar a AD feita, uma pesquisa produzida por AtlasIntel (2023) a partir
de uma coleta de entrevista com 2.200 correspondentes, dos resultados obtidos,
nota-se que 42,7% acreditavam que o Bolsonaro não tinha responsabilidade pela
invasão ao Planalto, enquanto 50,2% pensavam o contrário. Simultaneamente,
50,5% dos evangélicos entrevistados informaram que a invasão ao Planalto foi
justificável, fora que 67,9% dos evangélicos não acredita que Lula tivesse obtido
mais votos que Bolsonaro na eleição de 2022. E, mais da metade dos evangélicos
corroboraram com a proposta de intervenção militar a fim de invalidar o resultado
da eleição presidencial, sendo um número aproximado de 64%.
Esses dados destacam uma polarização significativa e uma alta desconfiança
nas instituições eleitorais entre uma parcela considerável da população evangélica.
Segundo Pippa Norris e Ronald Inglehart (2019), o mesmo é apontado no caso
de Trump.
Segundo Almeida (2019), o eleitorado evangélico sempre foi adepto aos
discursos de mudanças concernentes à sexualidade, gênero e reprodução.
Deste modo, sua campanha eleitoral conquistou esses eleitores à medida que
fomentou um pânico moral, a partir do combate à chamada “ideologia de
gênero”, um dos maiores espectro que assombra a população mais conservadora
no Brasil.
A campanha de Bolsonaro em 2017 destoava-se das demais pela intensidade do
uso das redes sociais; usando-as enquanto mecanismo para difusão de narrativas
guiadas por inversões de sentido e notícias falsas. Um exemplo foi o caso da
suposta acusação de que houve uma distribuição, do nomeado kit gay, nas
escolas públicas por Fernando Haddad, durante o período em que foi Ministro
da Educação (Almeida 2019).
Após dias em silêncio, o Presidente em exercício à época, Jair Bolsonaro,
realizou um pronunciamento13 no palácio da alvorada, demonstrando o
descontentamento com o resultado eleitoral e comparando os movimentos de
acampamento em quartéis do exército brasileiro por todo o país.
13 Disponível na plataforma do Youtube, a partir do canal Tv Brasil que é financiada pelo Governo Federal:
<https://www.youtube.com/watch?v=V9tg5Tus7hE>. Acesso em 15/02/2023.
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“Os atuais movimentos populares são frutos de indignação e sentimento de
injustiça de como se deu o processo eleitoral. As manifestações pacíficas
sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da
esquerda que sempre prejudicaram a população, como a invasão de
propriedades, destruição de patrimônios e cerceamento do direito de ir e
vir. A direita surgiu de verdade em nosso país, nossa robusta representação
no Congresso mostra a força dos nossos valores: Deus, Pátria, Família e
Liberdade.”
Apesar de enaltecer o ganho político que a direita recebe na arena política
desde sua eleição, sua retórica vai além de vislumbrar os efeitos de sua
linha política. Seu discurso é sempre de colocar um contraponto sobre sua
perspectiva do método de agir politicamente da esquerda, o qual faz condenações
suasórias.
Diante dos discursos nos quais desacreditava o processo eleitoral eletrônico
e fazendo comparações com o ataque ao Capitólio nos Estados Unidos, o líder
político, ainda no cargo de Chefe de Estado na época, proferiu14:
“[...] o que aconteceu nas eleições americanas agora [...] a causa dessa
crise toda, falta de confiança no voto [...] e aqui no Brasil, se tivermos
o voto eletrônico em 2022 vai ser a mesma coisa, a fraude existe, daí a
imprensa vai falar “sem prova” [...] se nós não tivermos o voto impresso
em 2022, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter problema pior
que os Estados Unidos” (BOLSONARO, 2022, grifo do autor).
À vista disso, pode ser observado que sua postura frequentemente se inclinou
a práticas discursivas inflamatórias, embora pudesse ser só um modo distinto
de conduta por um Chefe de Estado. Segundo Levitsky e Ziblatt (2018), o que
realmente determina líderes populistas com posturas que podem provocar uma
cisão de um regime político são aqueles que põe em descrença, a partir da
conquista de capital social de grande parcela da população, as instituições
políticas e seus acessórios, como foi o ataque constante a Imprensa e ao processo
eleitoral, sua estrutura a priori.
Logo, são os estímulos à desconfiança nos fundamentos dos regimes
democráticos que líderes como Bolsonaro e Trump fazem acontecer a animosidade
política nível intransigente. Todavia, os casos de invasão e depredação dos
14 Disponível no canal do Youtube do Jornal Estadão: <https://www.youtube.com/watch?v=GFEzMlalf14>.
Acesso em: 15/02/2023.
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patrimônios públicos, trazem, por seu turno, uma problemática maior que reside
na radicalização política contra o próprio sistema democrático.
Quadro 3. Associação do caso de Bolsonaro aos critérios da Análise de Discursos
Ideologia História Linguagem
Grupos da extrema direita que
se autodeclaram “excluídos”
das decisões políticas.
Crescimento da rivalidade
política;
Invalidar o processo eleitoral e
a Imprensa; criar antagonismo
contra estas instituições.
Fonte: Elaboração própria
A análise detalhada dos discursos políticos de líderes de Bolsonaro e
Trump revela uma estratégia comum: a explorar o incentivo a seus apoiadores
consumirem informações de suas bolhas e a estimular a rivalidade política a
nível extremista. Esta tática indica uma eficiência devido à sua acessibilidade
às massas, manipulando as percepções em detrimento da verdade factual.
Em vista disso, Bolsonaro utilizou sua presença nas redes sociais para difundir
suas narrativas, alimentando o pânico moral em seu eleitorado (Almeida 2019).
Sua retórica, conforme indicado nos dados do AtlasIntel (2023), ilustra como
ele conseguiu polarizar a opinião pública, especialmente entre os evangélicos,
criando um terreno propício para a desconfiança nas instituições democráticas.
A descredibilização do processo eleitoral, a condenação da Imprensa e o
incentivo ao isolamento informacional são táticas compartilhadas por líderes
populistas como Bolsonaro e Trump, minando a confiança nas instituições
democráticas e alimentando uma animosidade política intransigente.
Neste contexto, é crucial refletir o poder do discurso político na formação de
percepções e comportamentos. A análise dessas estratégias discursivas oferece
insights cruciais para enfrentar os desafios contemporâneos da política polarizada
e preservar os alicerces democráticos em sociedades ao redor do mundo.
Resultados das análises
Conforme visto na seção metodológica, a análise de discurso de linha francesa
se atém a investigar como o imaginário social de grupos políticos são constituídos,
o que, seguindo a proposta do artigo, possibilitou analisar por qual motivo alguns
grupos políticos atuaram de forma violenta contra seus regimes políticos.
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Notando-se os quadros elaborados nos dois casos analisados, os alvos primordiais
foram a Imprensa e o Processo eleitoral. Dois elementos integrativos dos processos
de formular e exprimir preferência política, conforme destaca Dahl (2012).
Em ambos casos, os dois líderes usaram palavras que incentivaram seus
apoiadores a ficarem restritos a obter informações apenas por mídias alternativas,
cuja maioria delas eram fontes e reproduções discursivas dos mesmos. Essa
conjuntura faz ressoar a crítica de Nobre e Accioly Filho (2022) acerca das condições
atuais que impedem alguns grupos de formular e exprimir suas preferências
políticas, sem intervenção do controle de informações, prejudicando seu vínculo
com o aparato estatal e a crença nele.
O contexto do populismo digital, conforme destaca Cesarino (2019, 2022), é
delicado porque a mobilização política é baseada em afetos, não em racionalidade.
Emoções como ressentimento e raiva são ativadas e reforçadas dentro de bolhas
informacionais. Essas bolhas, criadas por aplicativos como o WhatsApp, limitam
a exposição a diferentes pontos de vista, promovendo grupos fechados. As
mensagens políticas, compartilhadas em redes de confiança como familiares e
amigos, fortalecem a credibilidade do conteúdo e visam efeitos específicos, como
a equivalência entre liderança e povo e a mobilização contínua.
Segundo Lévi-Strauss (2018), a fixação das pessoas por uma atração de atenção
se atrela ao universo simbólico de um sujeito, ao que ele atribui como verdade,
a forma como a qual ele decodifica a realidade. Portanto, não há uma separação
de sujeito e cultura, nem de linguagem e sujeitos, pois são indissociáveis. Para
Lacan (1966), os discursos dão significado às funções dos indivíduos ao ponto
que a história deles é constituída pela fala e endereçada pelo outro, pois suas
operações são as das histórias daquilo que constitui a emergência da verdade
na realidade. Neste sentido, a realidade é imaginária/simbólica à medida que o
símbolo lançado sobre o concreto dita a experiência do real, ou seja, temos uma
operação simbólica que pretende acessar o imaginário e dar consistência a ele
em relação a experiência do real, o que, logo, constitui a pessoa.
A operação dos símbolos é curiosa porque pouco importa se ela é objetivada
de forma concreta na realidade. Importa mais a crença do sujeito nesses símbolos.
Partindo da concepção que nós somos seres culturais, porque construímos nossos
significados e valores. Logo, a eficácia simbólica reside na propriedade indutora
de quem discursa e daqueles que estão sujeitos a serem devotos da consistência
imaginária do sujeito narrador (Lévi-Strauss 2018).
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À vista disso, notamos que um não foge do outro, o discurso não foge da
realidade concreta, todavia, ela opera na sua estruturação quando vemos no caso
de ataques aos prédios públicos que são símbolos de um regime democrático
que foram os sentidos atribuídos às palavras, usadas pelos líderes em questão,
induziram grupos de pessoas a agirem com adesão à violência, pois em seus
discursos eles deram consistência a realidade desses sujeitos de que o processo
eleitoral foi fraudulento e de que os meios de comunicações responsáveis por
noticiar o mundo político eram falsos.
Assim, aguçando a descrença nos elementos que são primordiais a garantia
institucional mais indelével da democracia (Dahl, 2012), que é a de formular e
exprimir preferência política, nota-se uma relação entre o discurso desses líderes
e a formação dos atos violentos.
Portanto, conforme observado por Lévi-Strauss (2018), nos casos analisados,
pouco importou o trabalho dos sistemas eleitorais, assim como da própria mídia
em reagir às notícias falsas que circulavam sobre a fraude eleitoral. As pessoas
foram limitadas a acreditar apenas no que seus líderes e canais de mídia indicados
afirmavam ser verdade, devido à influência dos símbolos e da linguagem na
formação de suas crenças sobre a realidade, mesmo diante de notícias falsas
não comprovadas sobre fraude eleitoral.
Considerações Finais
De acordo com as análises feitas, observa-se uma relação entre os discursos
de líderes políticos nas redes sociais e a forma como grupos políticos interpretam
e se mobilizam diante das conjunturas tecidas. Conforme grifado por Levitsky
e Ziblatt (2018), o respeito e a tolerância mútua entre os partidos políticos e
seus eleitorados é a máxima da preservação dos regimes democráticos, todos
devem discordar das propostas que cada um oferta, todavia, jamais devem fazer
contraposições em aspectos intransigentes que causem danos a sua integridade.
Embora o cerne dos debates sobre a volumosa ascensão da ultradireita
globalmente reside nos conflitos sociopolíticos, nota-se que desde a transição dos
governos no caso dos Estados Unidos e o do Brasil, a intransigência ultrapassa
a animosidade partidária e designa-se ao ataque em si do sistema democrático,
pois ambos casos configuraram uma tentativa de desvalidar o sistema eleitoral
e sua legitimidade.
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No que lhe concerne, foi recorrente nos discursos entre os dois líderes políticos
analisados, desvalidar as urnas e estimular o não reconhecimento da derrota na
competição eleitoral. Sabendo-se que as redes sociais tomam dimensões brandas,
as lideranças políticas estão cada vez mais sujeitas a precisarem rever suas
exposições, afinal são figuras públicas que lideram e estimulam comportamentos,
conforme visto na segunda seção.
Ao passo que estas considerações são postuladas, acrescentasse que, segundo
Munn (2021), as redes sociais podem funcionar mais do que meros instrumentos
informativos e comunicativos, sendo suas estruturas críveis de investigação quanto
a modalidade de mobilizar grupos a tomarem ações violentas. Confirmando sua
premissa nos dois Estudos de casos aplicados.
Em suma, nota-se que as redes sociais potencializam o alcance que as retóricas
dos respectivos líderes exerceram na fomentação dos atos antidemocráticos,
resultando em depredações de patrimônios públicos, enquanto tentativas
de contestar o resultado das eleições. E, com isso, uma nova preocupação é
apresentada quanto aos processos sociopolíticos contemporâneos, cujo papel
das redes sociais e seu uso por lideranças políticas precisam ser discutidos, a
fim de evitar que a propagação de desinformação ou defesas incabíveis contra
o sistema democrático sejam feitas, ao ponto de fomentar ataques contra os
patrimônios públicos.
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