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Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 11, n. 3, 2016, p. 199-221
O Sudeste Asiático entre Estados Unidos e China: “arquipélago de economias de mercado” [...]
mais a atenção de Washington, o SE Asiático também ganhou importância,
principalmente pelos efeitos da ascensão chinesa.
A ofensiva diplomática multilateral começou em 2009, quando Obama tornou-
se o primeiro presidente norte-americano a encontrar-se oficialmente com os dez
membros da ASEAN, no que viria a ser chamado, em 2013, de US-ASEAN Summit.
Em 2010, foi criada a missão permanente dos EUA para a ASEAN e, já no segundo
encontro com o bloco, as partes emitiram uma nota em defesa da “livre navegação
do Mar do Sul da China”, em nítida referência à projeção da marinha chinesa
na região (KHAN, 2012, p. 102). Por fim, seguindo a linha do engajamento com
o SE Asiático, a diplomacia dos EUA tem atuado ativamente em diversos foros,
como o Asean Regional Forum, o East Asia Summit, o diálogo entre ministros de
Defesa e o combate a crimes transnacionais e cibernéticos.
Embora o pivô estratégico tente apresentar-se como um instrumento
diplomático, sua execução não pode ser dissociada da esfera militar (MAJID, 2013,
p. 27). Assim, tanto aliados de longa data, como as Filipinas, quanto antigos rivais,
como o Vietnã, têm recebido atenção especial dos EUA, seja com a reativação de
bases militares (Filipinas) ou com a execução de exercícios militares conjuntos
(Indonésia, Vietnã, Tailândia, Cingapura). No entanto, o confuso processo decisório
nos EUA e a existência de agendas de segurança mais urgentes lançam dúvidas
sobre o compromisso norte-americano em proteger seus aliados asiáticos em caso
de possíveis agressões chinesas.
O chamado pivô estratégico também está intrinsicamente atrelado à economic
statecraft dos EUA. Embora tenha acordos bilaterais de comércio com países da
região, a criação do Transpacific Partnership (TPP), com a inclusão de Malásia,
Brunei, Cingapura e Vietnã, é a mais recente materialização da estratégia norte-
americana para responder ao desafio competitivo e geopolítico da China via
acordos megarregionais. O TPP busca forjar um novo arcabouço institucional e
regulatório, tentando imprimir o direcionamento estratégico dos EUA à remodelação
do regime global de acordos internacionais de investimentos. E tenta, assim,
contrapor-se à expansão econômica e política da China e assegurar a capacidade
norte-americana, que vem desde o fim da Segunda Guerra, de ditar regras no
Pacífico. Os próprios documentos do governo sobre o TPP explicitam a disposição
norte-americana de exercer a liderança na Ásia, buscando evitar a predominância
do que eles chamam de “modelos menos abertos” e que “não compartilham dos
nossos interesses ou valores”: