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Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 12, n. 2, 2017, p. 197-218
Política externa independente e a institucionalização das atividades espaciais no Brasil [...]
então, que o centro técnico da Aeronáutica replicaria o modelo do Massachussets
Institute of Tecnology (MIT), e o Brasil, inclusive, contaria com o apoio do chefe
do departamento do referido instituto (ESCADA, 2005, p. 47).
Após meses discutindo o plano de criação de um centro técnico, em janeiro de
1946, foi aprovada a Comissão de Organização do Centro Técnico da Aeronáutica
(COCTA). A Comissão foi extinta em 1953, quando cumpriu sua missão de executar
o plano de institucionalização do Centro Técnico da Aeronáutica (CTA), que iniciou
suas atividades no primeiro dia de 1954 em São José dos Campos, São Paulo.
O CTA era uma instituição científica e técnica de pesquisa da Força Aérea Brasileira.
Como centro de pesquisa, sua atribuição inicial era a de formação de cientistas
para o desenvolvimento da tecnologia aeronáutica (COSTA FILHO, 2002, p. 69-69).
Esse era o primeiro passo para superar as deficiências do poder aéreo brasileiro.
Nesse primeiro momento, o Brasil contou com a cooperação dos EUA –
parceiro militar desde 1940 – para a montagem da infraestrutura de apoio para o
desenvolvimento de pesquisas
6
, além da colaboração do chefe do departamento
de Aeronáutica do MIT, professor Richard H. Smith. Foram criados dois institutos
científicos: o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), voltado para a ensino
superior qualificado; e o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IPD), que se
concentrava na pesquisa e na cooperação com a indústria.
A criação do ITA, em 1948, foi um marco na formação de mão de obra
especializada para o setor aeroespacial. No início, foram disponibilizados os
cursos de engenharia aeronáutica de aeronaves, aerovias e eletrônica. O objetivo
era suprir a demanda do mercado por recursos humanos qualificados, o que
estava diretamente ligado ao desenvolvimento tecnológico do setor. Para compor
o quadro de técnicos e professores – ainda indisponíveis no Brasil –, foi necessária
a contratação no exterior, como nos Estados Unidos
7
e Alemanha
8
.
Inicialmente, os engenheiros formados no ITA encontraram difícil inserção
no mercado tecnológico brasileiro, devido à falta de um setor produtivo apto a
6 Segundo Costa Filho (2002), o Brasil comprou “equipamentos e material para os laboratórios de motores,
estruturas, metalografia, resistência dos materiais e de máquinas e ferramentas, além de uma parte dos livros
que iriam integrar o acervo da biblioteca do ITA”.
7 Com a falta de técnicos e professores qualificados no Brasil, previa-se que a maioria dos professores seriam
norte-americanos altamente capacitados, contratados por um período de quatro anos, renováveis por mais três.
Após esse período, os norte-americanos seriam substituídos por brasileiros, preferencialmente os formados no
instituto (ESCADA, 2005, p. 52).
8 Um dos nomes mais importantes é o do Prof. Henrich Focke, um dos fundadores da fábrica de aviões alemã
Focke Wulf. Em 1951, o professor alemão mudou-se para o Brasil acompanhado de 20 técnicos de equipe (COSTA
FILHO, 2002, p. 72-73).