
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 1, 2019, p. 31-51
45Fabio Luis Barbosa dos Santos
Muitas das empresas sul-africanas de semente, agrotóxicos e fertilizantes participam
de processos de fusões e aquisições, nos marcos da sua expansão internacional.
Outra característica da expansão regional de negócios sul-africanos é a
coexpansão, ou seja, a projeção regional de parcerias comerciais já existentes.
A Unitrans, que opera em 10 países na África Austral, opera em parceria com
outras empresas sul-africanas, como a Tiger Brands e a RCL Foods. Outro caso
ilustrativo é a expansão de cadeias de fast-food e de supermercado. Quatro grandes
redes sul-africanas expandiram suas operações na região: Shoprite, Pick n Pay,
Spar e Woolworths. A principal delas, Shoprite, estabeleceu programas de apoio a
produtores locais para que eles atendam aos requisitos de quantidade e qualidade
de suas operações. No entanto, em 2016, ainda importava 98% de suas frutas e
vegetais da África do Sul (TEMBO, 2018).
Nesses casos, não foi possível mapear políticas específicas do Estado sul-
africano em apoio da expansão regional, para além de uma atuação em prol da
liberalização comercial, já descrita. Na realidade, os testemunhos de analistas,
servidores públicos de alto nível e homens de negócios sugerem que essa expansão
tem sido um assunto privado, que acontece em grande medida à revelia do Estado.
Um executivo da MTN, empresa de telefonia sul-africana que se expandiu
globalmente, relata um episódio que ocorreu quando trabalhava na sua principal
concorrente, a Vodacom – atualmente controlada pela britânica Vodafone. Essa
empresa teria entrado no mercado moçambicano em resposta a um pedido pessoal
do então presidente Nelson Mandela. Do ponto de vista corporativo, trata-se
de um país em que os potenciais clientes se concentram em poucas cidades
esparsas em um vasto território, o que torna a cobertura telefônica dispendiosa
e, portanto, pouco rentável. Entretanto, como disse o executivo, “ninguém dizia
não a Madiba” – modo como é conhecido Mandela. Questionado sobre a forma
de penetração dessas empresas na região, relatou que, frequentemente, governos
africanos convidam empresas sul-africanas a fazerem negócios em seu país, porque
elas aportam investimento em economias pouco diversificadas (NYOKA, 2018).
Nesse mesmo diapasão, mas de um ângulo distinto, um servidor, que ocupava
em 2018 um alto cargo vinculado ao Ministério de Indústria e Comércio, opina
que há pouca estratégia governamental e que a expansão corporativa tem sido, em
larga medida, um movimento na esfera privada (GWYNNE-EVANS, 2018). Prevalece
entre os analistas a percepção de que a internacionalização evolui caso a caso,
sem constituir uma política totalizadora que articule esse movimento econômico
a um projeto político de liderança regional, ou de projeção global (GOGA, 2018;