
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 2, 2019, p. 5-26
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Marcos Costa Lima; Deisiane Valdevino; Pedro Fonseca
a China definiu a Rússia como uma “prioridade em sua diplomacia” quando da
publicação de seu Livro Branco intitulado China’s Policies on Asia-Pacific Security
Cooperation. A ampla parceria estratégica de coordenação entre a China e a Rússia
passa a ocupar uma posição especial na diplomacia do pensamento de Xi Jinping
sobre o Socialismo com características chinesas para uma nova era.
Além da área militar, o setor energético é outra importante área na qual a
parceria China-Rússia tem se ampliado e aprofundado. Desde a assinatura do
“Tratado de Boa Vizinhança e Cooperação Amigável”, em 2001, em que os dois
países se comprometeram a ampliar suas relações, que a cooperação energética
cresceu significativamente, envolvendo não apenas o comércio de recursos
energéticos, mas, também, investimentos relacionados à energia, participação
acionária, desenvolvimento de infraestrutura e intercâmbio de tecnologia.
A questão energética, nesse aspecto, tem sido utilizada como um eficaz
instrumento de política para lidar com os desafios imediatos, como a crise da
Ucrânia e as disputas do Mar do Sul da China. Dessa forma, pontua os autores,
cooperação em energia ajudou os dois países a adotarem posições comuns em
relação a questões não relacionadas à energia e facilitou a interação mais profunda
no longo prazo (YILMAZ & DAKUSUEVA, 2017).
Como mencionado acima, o relacionamento China-Rússia no setor energético
começou a melhorar nos últimos anos em resposta a uma série de desafios
geopolíticos e geoeconômicos. Geopoliticamente, tanto a China quanto a Rússia vêm
enfrentando grandes desafios em suas periferias próximas. No Mar do Sul da China,
as disputas territoriais tornam-se cada vez mais complicados e multilateralizadas,
com atividades crescentes de países da região e de atores externos, como os Estados
Unidos, Japão e Índia, o que representa um grande desafio para a China.
Além disso, sob a estratégia de “reequilíbrio em relação à Ásia”, Washington
reforçou sua rede de alianças de segurança e sua presença militar na região da
Ásia-Pacífico. A China, entretanto, procura aumentar as suas capacidades de defesa,
através do desenvolvimento econômico e militar, e promove a iniciativa One Belt,
One Road, projeto que se transforma em poder marítimo e terrestre ampliado.
A Rússia, por sua vez, esteve envolvida em um profundo conflito com os
Estados Unidos e seus aliados europeus pelo enfrentamento com a Ucrânia,
especialmente após a anexação da Crimeia, que obteje uma dura resposta coletiva
ocidental capitaneada pelos EUA em conjunto com seus aliados na OTAN e que
resultou em uma série de sanções econômicas.
Nesse contexto de retaliação por parte do Ocidente à Rússia, o apoio
formal da China tornou-se mais expressivo à medida que as sanções à Rússia se