
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 3, 2019, p. 84-109
96 A assistência externa de promoção da democracia liberal dos Estados Unidos na América Latina [...]
usando o território equatoriano como base para este fim. Também possuem
interesses n questão da exploração mineira e petroleira em regiões equatorianas,
inclusive em terras indígenas. Entretanto, o fato de Rafael Correa possuir fortes
vínculos de amizade e alinhamento político com Hugo Chaves, então Presidente
da Venezuela, provocou maior atenção às relações exteriores do Equador.
Nos telegramas confidenciais e secretos de comunicação diplomática de
2006 (US Embassy Quito, 2006b, 2006a) são relatados os perfis dos candidatos,
explicando quem são e apresentando um resumo de suas plataformas de campanha,
mostrando o risco que seria para os EUA se Rafael Correa, por exemplo, viesse
a vencer as eleições. Lembram, neste mesmo documento (US Embassy Quito,
2006b), o papel de cada organização — NED, NDI e IRI — junto às organizações
não governamentais e partidos políticos locais equatorianas nesse período eleitoral,
demonstrando, dessa forma, o real interesse dos estadunidenses no país. Isto
evidencia o receio dos EUA ao perceber que Rafael Correa se elegeria com um
discurso de esquerda e usando termos como “Revolução Cidadã”, “Socialismo do
Século XXI”, e com uma plataforma eleitoral antiestadunidense e nacionalista, o
que tenderia a resgatar uma cosmovisão indígena e da natureza como sujeito de
direito e não mais somente como recursos econômicos.
Geralmente, os motivos alegados para se destinar recursos de assistência externa
política a outros países giram em torno de instabilidade política ou de algum tipo
de opressão por parte do governo local que justifique a promoção de democracia.
O que não seria o caso do Equador, que havia saído de um período de instabilidade
política, de golpes e reivindicações da sociedade civil pelo fim da corrupção, pelo
respeito aos direitos e por mais participação política. No entanto, o que chamou
a atenção foi o aumento considerável e repentino de recursos da NED destinados
ao país, no período das eleições presidenciais de 2006. O Gráfico 3 mostra que o
período de 2006 a 2016 coincide com altos volumes de recursos destinados à ajuda
externa política e abrange o período da administração de Rafael Correa, do partido
Aliança País. Subitamente, os recursos destinados pela NED para o Equador subiram
da casa de meio milhão de dólares ao ano para cerca de 2,5 milhões de dólares em
2006, e seguiram em alta até o último ano de governo de Correa
8
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8 Chama a atenção uma baixa muito acentuada em 2007, isto é, não houve destinação de recursos de assistência
externa ao Equador neste ano. No entanto, os recursos vieram de outra fonte, pois o país, neste ano de início
de governo de Correia, se caracterizava como um cenário particular e propício à instabilidade política. Segundo
o Congressional Budget Justification (CBJ) de 2008, os recursos saíram do Fundo de Apoio Econômico (FSE),
uma vez que o país se encontrava, segundo critérios estadunidenses, em situação especial e necessitando criar
um ambiente estável, haja vista seu histórico de uma década de instabilidade política.