
210 Da audácia ao pragmatismo: política externa bolivariana e o Mercado Internacional de Petróleo (2007-2012)
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 14, n. 1, 2019, p. 202-224
Então, estiveram presentes as condições necessárias para tornar possível – sob o
título “Fundo ALBA-CARIBE” – a interligação entre os dois principais projetos até
então firmados pela PEB: a “Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América
(ALBA)”
10
e o projeto “PetroCaribe”
11
. Consta que, durante a bonança petroleira
experimentada em 2008, período em que o combustível atingiu sua alta histórica
(US$121,84), 25% dos proventos advindos da venda do petróleo venezuelano
foram creditados nesse Fundo, cujo propósito é, prioritariamente, auxiliar no
custeio da luta contra a pobreza
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através do financiamento de programas de
desenvolvimento socioeconômicos estabelecidos nos diversos países que compõem
o acordo multilateral (ASTARITA, 2014).
Compartilhando o mesmo propósito, também em 2008, articulou-se o “Banco
del ALBA”, instituição financeira resultante do acordo multilateral firmado
entre Bolívia, Cuba, Nicarágua e Venezuela
13
. O banco, segundo seu convênio
constitutivo, tem como objetivo financiar o desenvolvimento econômico e social
sustentável, reduzindo a pobreza e as assimetrias ao promover o intercâmbio
econômico justo, dinâmico, harmônico e equitativo entre os países-membros.
Almejam-se os princípios da solidariedade, complementariedade, cooperação e
respeito à soberania dos povos. Entre suas possíveis formas de operacionalizar tais
10 Sobre a ALBA, é fundamental pontuar que tal iniciativa foi articulada, a partir do ano de 2004, enquanto oposição
às negociações da Área de Livro Comércio das Américas (ALCA). Além de importantes diferenças em relação aos
países que comporiam a área de livre-comércio hemisférica – incluindo Cuba e excluindo os EUA e o Canadá –, a
ALBA surgiu como proposta alternativa ao modelo de integração regional hegemônico por contrariar a ênfase que
aquela proposta atribuía aos pressupostos neoliberais na condução do processo. Por sua vez, o projeto de integração
bolivariano se pauta, preponderantemente, nas lutas contra a pobreza e contra a exclusão social a partir da adoção
de estratégias equitativas de cooperação entre as nações. Em linhas gerais, e retomando a argumentação de Villa
(2007, p. 42), pode-se dizer que “a Venezuela concebe um processo de integração em bases não só econômicas,
mas também profundamente políticas”. Atualmente a ALBA é composta por oito países: Venezuela, Cuba, Bolívia,
Nicarágua, Dominica, Equador, Antígua e Barbuda e São Vicente e Granadinas.
11 O projeto PetroCaribe está vinculado à “PetroAmerica”, iniciativa que representa, por sua vez, a estratégia
através da qual ocorre a integração energética sob os auspícios da ALBA. Na prática, essencialmente, o plano
se propõe a promover a integração das empresas energéticas estatais da América Latina e Caribe para, assim,
instrumentalizar acordos e realizar investimentos conjuntos nas atividades relacionadas à exploração e
comercialização de hidrocarbonetos. A proposta confere, nesse sentido, uma acentuada importância estratégica
ao setor, vislumbrando, a partir da integração, a sedimentação de uma governança multinível dos recursos
energéticos no âmbito hemisférico, de modo a assegurar a atuação coordenada entre os participantes, bem como
o planejamento e avaliação dos desafios e necessidades no longo prazo (JÁCOME, 2011). Até a presente data,
a PetroCaribe conta com a participação dos seguintes Estados: Antígua e Barbuda, Bahamas, Belize, Dominica,
Granada, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, Nicarágua, República Dominicana, São Cristóvão e
Neves, São Vicente e Granadinas, Santa Lúcia e Suriname.
12 Conforme noticiado, oficialmente, pela primeira vez em 13 de agosto de 2007, por Hugo Chávez Frías. (REBELION,
2007).
13 Posteriormente, em 2011 e 2012, respectivamente, São Vicente e Granadinas e Dominica se somaram à iniciativa.